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INSANIDADE (Tone-Deaf)




MISTURA DESANDADA


por Antônio de Freitas


O filme começa com a apresentação da hipster meio desorientada Olive, interpretada por Amanda Crew ( da série Silicon Valley, 2014 a 19), que trabalha como assistente de um estilista e enfrenta uma tempestade em sua vida. Aliás, duas porque termina com o namorado e é despedida um dia depois em cenas de comédia amarga com diálogos cheios de cinismo e até bem escritos. A cidade grande apresentada é povoada de personagens neuróticos que se agridem através de estocadas verbais o tempo todo. Estressada com os eventos, ela decide alugar uma casa no campo por uns dias, atendendo aos conselhos de sua mãe, que se mudou para uma comunidade de hippies. Faz as malas e se muda para lá e, ao chegar, conhece o dono da casa, o viúvo azedão Harvey vivido pelo ator - sempre lembrado pelo seu papel do T-1000 de O Exterminador do Futuro 2 (James Cameron, 1991) - Robert Patrick.

Logo notamos que Harvey é meio pancada das ideias e tudo demonstra que Olive vai ter problemas, assim como o filme, que muda de tom e não se desenvolve tão bem quanto a eficiente apresentação. Nesta parte, a atmosfera muda para filme de suspense com fotografia e trilha sonora condizentes. Olive parece nem saber o que fazer ali no campo, se preocupa em procurar namorados novos em um aplicativo, fofocar com as amigas pelo celular e tentar se reconectar com a mãe, que não liga muito pois anda ocupada com um garotão. Enquanto isso, Harvey demonstra que tem um lado psicopata, tem problemas com o filho que o deixou, odeia os jovens de hoje e parece que está jogando tudo na antipatia instantânea que sentiu pela avoada Olive. Tudo nos leva a crer que a coisa vai degringolar e acabar em tragédia.

O diretor e roteirista Richard Bates Jr, que já foi muito bem cotado por ter realizado o terror moderninho Excisão (2012), aponta para a fusão de horror e comédia, algo que fez muito sucesso na década de 80 e 90 gerando filmes icônicos. Prova que sabe muito bem como lidar com comédia em cenas bem montadas e repletas de diálogos aguçados, assim como o terror e violência. O problema está no fato de não conseguir lidar com a junção dos dois gêneros. Em suas mãos, um estraga o outro, apesar de uma produção bem feita cuja qualidade está estampada em todas as cenas do filme. Há cenas até bem construídas com um subtexto de choque de gerações e críticas disparadas contra ambas. Nota-se o esforço de fazer um filme mais inteligente do que aqueles que costumamos ver nos dois gêneros, mas não consegue deixar seus personagens interessantes o suficiente para capturar a empatia ou antipatia do espectador.


O resultado é um filme morno que não entrega o que a premissa promete. Não chega a ser ruim. Amanda Crew tem carisma e talento suficiente para carregar um filme nas costas assim como Robert Patrick, que já provou que os anos fizeram muito bem ao seu talento. E os dois tem a companhia de coadjuvantes eficientes e muito bem escolhidos. A conclusão é que não adianta ter ótimos ingredientes se não se consegue misturá-los bem para conseguir uma obra tão boa quanto eles. É um filme que não faz feio em uma “Sessão da Tarde” ou fim de noite na TV. Só isso.


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