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COISAS DO AMOR (Liebesding)



COISAS DE CLICHÊ

por Antônio de Freitas


Desde os anos 80, a Alemanha tem apostado na criação de filmes que avançam sobre o terreno dos gêneros dominados pelos americanos. Com o sucesso dos seus diretores autores, conseguiram emplacar obras memoráveis como o belíssimo O Tambor (Volker Schlöndorff,1979), O Barco Inferno no Mar (Wolfgang Petersen, 1981), A História sem Fim (Wolfgang Petersen, 1984), o poético Asas do Desejo (Wim Wenders, 1987) e uma série de sucessos internacionais que colocaram a Alemanha na figura de proa do desenvolvimento das cinematografias “off Hollywood” daqueles anos.

Conseguiram criar obras de peso no campo da Ficção Científica, Drama Épico, Fantasia, Terror e Ação. Agora vemos Coisas do Amor (Liebesding, 2022) uma produção de porte que aposta no gênero de Comédia Romântica.


A festejada diretora/roteirista Anika Decker (High Society, 2017) cria um filme com valores de produção altíssimos. Uma Direção de Fotografia eficiente, Direção de Arte e Figurino ricos em detalhes na caracterização de inúmeros sets e personagens dos mais diversos tipos. A proposta é de criar um filme de visual de cores fortes que evoca os primeiros filmes de Pedro Almodóvar (Mães Paralelas, 2021).


Marvin Bosch, na pele de Elyas M’Barek (A Onda, 2008) é um ator de sucesso que está no auge da carreira com um badalado filme de comédia que vai ser lançado. Mas a mídia é uma faca de dois gumes, ao mesmo tempo que tem o aplauso dos fãs, ele tem nos seus calcanhares uma famigerada jornalista que o persegue para aproveitar o escândalo de suas fotos nu, assim como revelações sobre seu passado. Na noite da estreia do filme, esmagado pelo peso da própria fama, entrando em crise com tudo isso e perseguido por fãs enlouquecidas, ele acaba tendo que se esconder em uma Boate Gay. Ali toma contato com um mundo completamente diferente do “saco de gatos” que é o universo com o qual está acostumado. O exemplo da ousadia e desprendimento dos valores das Drags Queens acabar por transformá-lo.

A diretora/autora é extremamente eficiente na condução de cenas muito bem orquestradas como a espetacular sequência inicial que, junto com os créditos do filme, apresenta o personagem principal na sua posição de ator celebridade rodeado de atenções. O mesmo capricho é dado aos bastidores da indústria do cinema com suas figurinhas, tramoias e ações não muito éticas que estão distribuídas em cenas pelo filme todo. Cenas estas que acabam formando um rico painel que serve como ilustração do mundinho venenoso frequentado pelas celebridades do cinema, da TV e da internet.

Com a já reconhecida eficiência alemã, o filme consegue apresentar um espetáculo colorido, movimentado e com um elenco afiado. Mas peca pelo excesso de personagens até bem caracterizados e pequenas tramas que entram para desaparecer sem mais nem menos. Com isso, temos a sensação de que são criados apenas para encher buracos ou resolver situações. Na tentativa de fazer sucesso agradando a Gregos e Troianos, acabam apostando em dois clichês mais do que manjados na história das comédias americanas. O primeiro seria do personagem pertencente ao universo X que é obrigado a frequentar um universo Y oposto ao mundo que conhecia. Ali cumpre seu arco dramático e acaba evoluindo O segundo seria o do casal improvável: duas pessoas de universos diferentes que, apesar de não terem a mínima chance de se entrosarem, se apaixonam.


Já que estavam fora do sistema pesado das distribuidoras americanas, poderiam ter ousado para nos entregar uma comédia de humor ácido ou até um drama psicológico, com essa odisseia do astro de cinema em crise que sente o gostinho da liberdade de expressão em uma boate de drag queens. Mas escolheram confiar apenas em ideias mais do que batidas e causaram um desperdício de valores de produção. Uma pena, pois tinham todas as chances de criar uma comédia memorável, com críticas bem construtivas sobre a indústria da mídia.


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