UM DIÁLOGO INTIMIDANTE COM A TELA
por Karina Kiss O documentário Boa Noite, sobre a vida do jornalista Cid Moreira - primeiro longa-metragem de Clarice Saliby - não decepciona, pois, no decorrer do filme vemos que, por ter pautado sua carreira pelo bom humor, o biografado parece não apreciar adentrar assuntos mais sérios ou particulares de sua vida. Há um evidentemente distanciamento no sentido de evitar a invasão de sua vida pessoal, sempre pautada pelo profissionalismo.
Cid Moreira ficou famoso por ocupar, durante décadas, a bancada do Jornal Nacional, nos brindando com seu carinhoso e sucinto "Boa Noite" no horário nobre da televisão brasileira, nos trazendo as melhores e piores notícias. Quem é Cid Moreira? Mesmo em momentos fatídicos de sua vida pessoal, graças a seu impressionante profissionalismo, o jornalista sempre segura a emoção. Ao longo do documentário entramos em uma busca mitológica e histórica, onde este navega por imagens de arquivo que refletem os rumos tomados pelo Brasil nas das últimas décadas.
A vida profissional de Cid Moreira se iniciou no rádio em 1944, quando conseguiu um emprego na Rádio Difusora, em Taubaté. Dono de voz poderosa, um autêntico dom, sempre esteve próximo a inúmeras curiosidades, em relação às quais o filme não se atenta muito. Dedicando a maior parte do tempo a transitar entre a vida atual do homem e suas paixões, o distanciando um pouco do mito do jornalista que atravessou muitas eras do Brasil desde os tempos do rádio, passando pela televisão e, por que não, até na internet? O filme desconstrói, com respeito, a imagem do mito Cid Moreira.
Entremeando, conforme dito anteriormente, as histórias de sua vida com um rico material iconográfico sobre a trajetória do entrevistado, com casos, curiosidades, etc. Há destaque, inclusive, para a íntegra de um direito de resposta que Cid Moreira teve de ler ao vivo, em pleno Jornal Nacional, graças a uma ação impetrada por Leonel Brizola (1922 - 2004). Momento impagável, assim como o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, entre outros.
Um autêntico labirinto de memórias. Lembranças e imagens de arquivo traçam um panorama de sua vida que, verdadeiramente, se confunde com a história da televisão brasileira. Um homem, um profissional, um mito. Mas acima de tudo, um ser humano.
Tudo que é feito sem emoção não funciona. Tudo que é feito com o coração, vira eterno. Assim foi o "Boa Noite" precursor de Cid. Para nós, um presente, e para ele uma justa e honrosa homenagem.
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