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BELA VINGANÇA (PROMISING YOUNG WOMAN)



UMA VINGANÇA QUE NUNCA SE EFETIVA


por Ricardo Corsetti

Há toda uma tradição no cinema internacional, de filmes sobre vingança feminina, que vão desde o clássico filme sueco Thriller - A Cruel Picture (Bo Arne Vibenius, 1973), passando pelo polêmico A Vingança de Jennifer (Meir Zarchi, 1978), ou mesmo o ótimo Sedução e Vingança (Abel Ferrara, 1981).

O recente Bela Vingança - estreia na direção da atriz e roteirista Emerald Fennell -, em tese, deveria fazer parte desta tradição. No entanto, visto que foi equivocadamente vendido como um thriller de vingança feminina quando na verdade se trata de um drama bastante morno e insípido (mesmo para os padrões do gênero drama), acaba se revelando uma bela decepção para admiradores do subgênero "vingança feminina" que, assim como eu, com certeza esperam ver sangue jorrando na tela, mas na verdade receberão um filme caracterizado por uma vingança que jamais se efetiva de fato, graças a um roteiro capenga e excessivamente bem comportado.


Embora válido enquanto tentativa de retrato crítico acerca da chamada "cultura do estupro", a necessidade que Bela Vingança se auto impõe de ser excessivamente politicamente correto acaba inevitavelmente resultando num filme insosso, que se perde em meio a seu próprio discurso generalizante e "lacrador" acerca do machismo estrutural.



Aliás, o roteiro escrito pela própria diretora arma uma cilada para si próprio no momento em que apresenta como única possibilidade de tornar a vida da protagonista - vivida por Carey Mulligan (Educação, 2009) - menos vazia e sem sentido, a possibilidade de encontrar o príncipe encantado na figura de um ex-colega de faculdade. Possibilidade esta que, talvez para se manter um mínimo de coerência com a problemática trama, logo se frustra. Afinal, conforme a lógica da protagonista ou do próprio filme, "todo homem é um ser traiçoeiro e estuprador em potencial", não é mesmo?



Mas, apesar de seu roteiro evidentemente problemático (que ironicamente, diga-se de passagem, levou o Oscar de melhor roteiro original há poucos dias), Bela Vingança tem lá suas inegáveis qualidades, como por exemplo o competente trabalho de direção, sobretudo quando levamos em conta que se trata de uma diretora estreante, caracterizado por belos e criativos planos. A fotografia e direção de arte - marcadas pelo equilíbrio entre cores quentes e tons pastéis ao longo de todo o filme - também são dignas de nota.


A escolha de Carey Mulligan, apesar de seu indiscutível talento e carisma, também me parece discutível, visto que, com todo o respeito, trata-se de uma atriz de 45 anos vivendo uma personagem recém saída da faculdade e que, portanto, sobretudo para os padrões norte-americanos, teria no máximo na vida real, uns 27 anos naquele momento.


De qualquer forma, o carisma de Mulligan, somado ao do divertido personagem vivido por seu principal parceiro de cena (e quase namorado) Bo Burnham (Oitava Série, 2018), é mesmo uma das poucas coisas que tornam essa trama - equivocada, generalizante e insossa - minimamente prazerosa de se ver.

Obs.: Isso, claro, apesar daquele desfecho digno de telenovela mexicana.




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