
AMOR SEM LIMITES
por Ricardo Corsetti
A conturbada relação conjugal entre o célebre compositor russo Pyotr Tchaikovsky (1840-1893) e sua esposa Antonina Miliukova (1848-1917) já havia sido retratada anteriormente em outras duas produções: no longa ficcional Delírio de Amor (Ken Russel, 1971) e também no documentário da BBC The Creation of Greatness (2007). Mas infelizmente, em ambos os casos, Antonina é vista de forma pejorativa, retratada como "louca e imprudente".

Nesse sentido, a recente produção russa A Esposa de Tchaikovsky possui, em primeiro lugar, o mérito de corrigir tal injustiça, ao retratar - de forma muito mais humana e complexa - a figura de Antonina que, aliás, era também compositora erudita.
Além de ser um filme tecnicamente irrepreensível, com belíssimo trabalho de direção de arte (cenografia e figurinos) em termos de reconstituição de época e bela fotografia também; A Esposa de Tchaikovsky corrige ainda outra grande injustiça histórica, fruto, é claro, da mentalidade e cultura vigentes naquele período: o preconceito em relação à homossexualidade de Tchaikovsky que o fez, inclusive, embarcar num casamento infeliz e de aparências, como forma de "dar uma satisfação à sociedade".

Tão relevante quanto isso é a revalorização histórica que o filme propõe em relação à Antonina Miliukova, mulher inteligente e com personalidade. E não apenas uma "louca apaixonada e imprudente", conforme as já citadas produções anteriores acerca do assunto, a tinham tratado.
O mais importante compositor russo da chamada "Era Romântica", bem como sua também talentosa e forte esposa, realmente mereciam um filme que os retratasse de forma humana e sem julgamentos morais. E felizmente, A Esposa de Tchaikovsky cumpre bem a missão.
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