A tecnologia a serviço da fantasia
Distante do filme Dr. Dolittle (Betty Thomas, 1998) estrelado por Eddie Murphy, que se valia sobretudo do carisma do ator e de uma trama simples mas eficiente, a nova versão da história do célebre médico capaz de conversar com animais trata-se agora de uma mega produção dos estúdios Universal, repleta de sensacionais efeitos de computação gráfica, o que não significa porém que a história a ser contada fique necessariamente em segundo plano.
Há uma clara mensagem ecologicamente correta, mas nunca passada de forma pesada ou panfletaria. E esse é o grande mérito de Dolittle, dirigido por Stephen Gaghan (Syriana - A Indústria do Petróleo, 2005): combinar efeitos especiais de encher os olhos, como por exemplo na caracterização perfeitamente crível dos animais que dialogam com o protagonista, com uma trama acessível e envolvente em relação a todo tipo de público.
Robert Downey Jr. (Chaplin, 1992) não chega a ter um desempenho excepcional como o simpático doutor que dá nome ao filme, mas, assim como o fazia Eddie Murphy em outros tempos, também se vale de seu carisma natural e talento para equilibrar momentos de humor e drama com habilidade para gerar empatia total junto aos espectadores.
Há também ótimas piadas ou "gags" ao longo de todo filme protagonizadas pelos animais fictícios, como por exemplo na ótima sequência em que um pato (ou pata) simplesmente bota um ovo ao se assustar com a investida de um enorme dragão.
Há também interessantes mensagens de tolerância e aceitação ao diferente, bem como de superação de medos e inseguranças, como por exemplo na figura de um enorme - porém extremamente medroso - Gorila que, graças ao apoio de Dolittle e de seus demais companheiros, acaba superando seus traumas causados por ameaças e maus-tratos sofridos no passado.
Vale ainda destacar o primoroso trabalho de direção de arte e fotografia que, em conjunto com uma trama ágil, emocionante e informativa na medida certa (sem discursos desnecessários acerca da importância da preservação e respeito a todo e qualquer ser vivo existente) fazem Dolittle realmente valer à pena, tanto em termos de entretenimento como também no sentido de conscientizar até o mais cético dos especuladores em relação à sua mensagem central.