Solidão e apatia globalizadas
Dias Vazios - do diretor estreante Robney Bruno Almeida - retrata o cotidiano de um grupo de jovens estudantes num pequeno município do interior de Goiás, em meio a alguns típicos dilemas adolescentes: incompreensão por parte de seus familiares, gravidez precoce, bullying no colégio onde estudam, incertezas quanto ao futuro, etc.
É justamente aí que reside o principal problema da trama: restringir ao cotidiano característico de uma pequena cidade - e também ao universo adolescente) - alguns temas de caráter universal que, aliás, nos acompanham ao longo de toda a vida. Exemplos: a sensação frequente de solidão e apatia perante uma sociedade embrutecida, fruto da competição por "um lugar ao sol" no mercado de trabalho e a eterna necessidade de nos destacarmos em relação aos demais, gerando em nós, inclusive, a ideia de que "o mundo não foi justo conosco, merecíamos mais da vida".
Em outras palavras, essa evidente busca por um tema que, embora ocorra num lugar e tempo específicos, possua um caráter universal, é compreensível enquanto opção de roteiro, visando tornar o tema retratado acessível a qualquer tipo de público, e ao mesmo tempo, o restringindo ao cotidiano adolescente, como forma de direcioná-lo ao público-alvo que se almeja em primeiro lugar.
Do ponto de vista técnico propriamente dito, o filme é realizado com competência, mas sem qualquer tipo de ousadia ou inovação: narrativa sempre linear, câmera "comportada" no tripé, narração em off por parte de uma narradora onisciente que, embora até funcione bem como recurso narrativo, poderia ser dispensada, diminuindo assim o formato extremamente didático e convencional do longa.
Quanto às atuações, o elenco jovem e desprovido de grandes celebridades da televisão, é bem competente. Porém, é inegável que o grande destaque é mesmo a experiente Carla Ribas (A Casa de Alice, 2007) que, embora tenha apenas uma pequena participação na história, simplesmente rouba a cena nos breves momentos em que aparece caracterizada como a freira responsável pela direção do colégio onde se passa boa parte dos eventos relacionados à trama.
Em resumo, apesar dos vários clichês temáticos e narrativos dos quais se utiliza, Dias Vazios - sobretudo se apoiando no talento e carisma de praticamente todo o seu elenco - consegue gerar empatia em relação aos dilemas vividos pelos personagens centrais nas pequenas tramas paralelas que se sucedem e se entrelaçam.
O desfecho me incomoda bastante, por questões pessoais que não mencionarei aqui, deixando a critério daqueles que virem o filme tirarem suas próprias conclusões a respeito da necessidade ou mesmo validade de tal final.