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PRAÇA PARIS


Protagonismo negro e feminino com P maiúsculo

Não é de hoje que negros e mulheres sentem a justa necessidade de se verem representados nas telas de cinema. E muitos anos depois dos chamados favela movie - por conta de diversos filmes sobre o tema favela que vieram no rastro de sucesso do excelente Cidade de Deus (Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002) - surge, com a urgência de um filme que deveria ter sido produzido há muitos anos, o visceral e engajado Praça Paris, dirigido pela experiente Lúcia Murat (Quase Dois Irmãos, 2004).


A história conta a vida de Glória (Grace Passô), uma mulher negra que trabalha como ascensorista de uma universidade carioca e vive na favela. Com uma infância traumática, cujo pai lhe abusava e o irmão é um perigoso traficante que cumpre pena na cadeia, faz sessões gratuitas de análise com a psicóloga portuguesa Camila (Joana de Verona). A relação de superioridade da terapeuta perante a paciente passa a ser posta em cheque após o comportamento controlador do irmão de Glória - interpretado de forma convincente por Alex Brasil - fazê-la sentir-se em perigo. Algo que poderia se fazer um paralelo com o fato do país que colonizou o Brasil agora estar sendo invadido por descendentes brasileiros em busca de uma vida melhor.

Com roteiro escrito pela diretora em parceria com o estreante Raphael Montes, o filme surpreende, muito por conta da interpretação irretocável da protagonista, que carrega no olhar todo o sofrimento repreendido da personagem. Não por acaso, foi premiada como melhor atriz no Festival do Rio e em Lisboa.

Praça Paris também é ousado ao apresentar uma cena de sexo entre a atriz e o estreante Digão Ribeiro, também em grande interpretação. Os atores são completamente diferentes do padrão usual de cenas similares por serem negros e acima do peso. Murat também foi premiada por sua direção no Festival. O filme ainda foi premiado nos festivais de Havana e Uruguai.


Curiosamente, Babu Santana (Tim Maia, 2013) - o mais experiente do elenco - não está tão bem no papel do pastor evangélico, mantendo sempre um pequeno sorriso no canto dos lábios. Nada que apague o brilho deste belo elenco, que deixa claro que já não é sem tempo que a raça - que é maioria na população brasileira - também tome as telas de cinema. Infelizmente, fatos lamentáveis como o boicote à série Sexo e as Negas (TV Globo, 2014) podem ter colaborado para essa demora.

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