Um belo filme, para os familiarizados com o pôquer
É sempre desafiador para os roteiristas ter que abordar temas muito específicos, que o grande público não conhece. Recentemente tivemos no Brasil um exemplo disso: o filme Real - o plano por trás da história (Rodrigo Bitencourt, 2016). Em A Grande Jogada é o jogo de pôquer somado à lavagem de dinheiro - que o experiente roteirista e estreante na direção - e vencedor do Oscar pelo Melhor Roteiro Adaptado com o filme A Rede Social (David Fincher, 2010) - Aaron Sorkin (Steve Jobs, 2016) enfrenta a árdua tarefa de retratar.
A trama conta a história de Molly Bloom (Jéssica Chastain), uma atleta de esqui na neve que sofre um grave acidente que lhe impede de continuar na prática. Com isso, muda de cidade e começa a trabalhar como garçonete em Los Angeles. Logo é convidada pra um rentável trabalho na organização de jogos de pôquer clandestinos. Com bastante inteligência e sedução, logo coordena jogos entre as maiores fortunas do país.
Envolvendo-se até com a máfia russa, tem sua prática descoberta pela justiça e contrata o ético advogado Charlie Jaffey (Idris Elba), que reluta em defendê-la, ainda mais que ela se recusa a entregar seus clientes para livrar-se da cadeia.
Inspirado no livro Princesa do Pôquer - escrito por Molly Bloom, o filme apresenta uma versão romantizada dos fatos. Mesmo que tenha uma dos de violência, dá pra supor que, não só a violência da história real seja maior como as armas de sedução da moça, que devem ter utilizado de meios menos ortodoxos do que o filme relata. Afinal, uma mulher linda e sedutora, cujos homens se jogam a seus pés, no filme é retratado de forma assexuada.
O também tem problemas de ritmo e montagem, como o pai da moça - interpretado por Kevin Costner - que desaparece no início do filme e volta de repente em seu terceiro ato. Outra questão é fazer com que o público que não é muito familiarizado com o jogo de cartas retratado consiga acompanhar as emoções que o filme propõe, e nisso deixa a desejar. Apesar de tentar simplificar ao máximo as regras do jogo - utilizando-se até de animações para isso - não consegue transmitir ao público leigo as mesmas emoções que sentiria alguém mais familiarizado.
Apesar dos problemas, é um filme acima da média e que merece ser visto. Principalmente pelas belas atuações de Chastain e Alba. Se Sorkin ainda não possui na direção as mesmas habilidades como as que lhe consagraram como roteirista, é uma grande promessa para seus próximos trabalhos.