Desafio de consciência sobre a sociedade e o fazer artístico
A inquietação gera o movimento perante os conflitos que surgem ao longo da existência, não há manual prático do que se fazer neste abismo vital, mas há provocações para as possibilidades do agir. Mesmo quando de maneira passiva - como tem sido a regra instaurada pela propaganda capitalista -, a ação de deixar para o outro tomar uma decisão, ambos lidam com as consequências desta, sem nenhuma dúvida.
A arte surge no caminho desses dilemas incessantes para que não sejam apenas isso, mas experiências na criação de sentidos e desconstruções de padrões massacrantes da vida, na latência da rotina surge como um rasgo para despertar a curiosidade e reflexão adormecida.
Em seu segundo longa-metragem, o artista plástico e diretor Julian Rosefeldt (The Creation, 2015), traz uma concepção fílmica baseada nos manifestos artísticos e de vanguarda do século XX e XXI. Por estar nas artes plásticas, a organicidade de tais questões ficam em evidência na visceralidade e radicalidade concretizadas no filme. Seja pela direção, roteiro, fotografia, montagem e atuação.
A produção se concretiza na estrutura de um manifesto visual ao selecionar trechos de manifestos importantes de várias vertentes, desde o Surrealismo, Futurismo, Dadaísmo, Fluxus, Pop Art, Dogma 95 e outros. A montagem dá um caráter dinâmico e ao mesmo tempo literário. Os que esperam uma ficção podem se decepcionar, pois o ritmo instaurado é o de uma leitura aprofundada sobre o fazer artístico e o papel revolucionário da arte dentro da sociedade, e não a trajetória de um herói com todas as peripécias e uma resolução satisfatória. Pelo contrário, provoca e coloca em xeque a consciência sobre a arte e a sociedade na qual estamos inseridos. De como a história está estanque em questões que não avançam, e é papel dos artistas expor essas feridas em suas criações.
Uma poesia visual é proporcionada pela fotografia, plano a plano a imagem foi pensada com cuidado e mostra que não está ali apenas para preenchimento e avançar para a próxima cena. Os detalhes e o ritmo do que acontece ali fazem a diferença, em suas linhas, texturas e profundidades.
Cate Blanchett (Blue Jasmine, 2013) interpreta - nessa viagem teórica e interessantíssima - 13 personagens diferentes, cada uma aliada à essência do que está sendo discutido. O trabalho de atriz é primoroso ao caracterizar diferentes nuances para as diferentes expressões, mas ao mesmo tempo em um elo de ligação, cada um em prol da contestação e revolução estética e prática desejada.
Manifesto é primoroso pela sua quebra de expectativas ao colocar o espectador em outras condições de recepção. É para se torcer o nariz. Sentir o cheiro do podre social contemporâneo discutido ao longo do tempo e tratado de maneira frágil. Transpor palavras teóricas em imagens e de maneira pulsante é um desafio bem feito por Julian, um soco na cara por parte dos realizadores para que seja mais levado a sério o discurso e a real intenção do que concretizam em suas obras. E enquanto público, o alerta para que não aceitemos tudo o que nos é colocado goela abaixo.