Uma refilmagem de encher os olhos
Sempre que se fala numa refilmagem ficamos de antemão com "um pé atrás". Ainda mais em se tratando do clássico épico Ben-Hur (de William Wyler). A versão de 1959 recebeu 11 estatuetas do Oscar e até hoje está entre os filmes mais premiados da história, empatando com Titanic (James Cameron, 1997) e O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei (Peter Jackson, 2003).
O termo mais apropriado para esta nova versão seria releitura, uma vez que o roteiro tem mudanças substanciais na sua estrutura. Na trama, Judah Ben-Hur (Jack Huston) é irmão de criação de Messala Severo (Toby Kebbell), que vai para a guerra e volta como um oficial do império romano. Um incidente os coloca em posições opostas.
Esta versão - bem mais curta do que as quase quatro horas da versão de 1959 - consegue, com duas horas e vinte minutos, apresentar um roteiro muito mais "redondo" e bem amarrado. Dentre as mudanças está o fato dos protagonistas serem irmãos de criação. Outra mudança importante é como eles se reaproximam. Na versão anterior, Judah salva o imperador de um naufrágio, e assim consegue ascensão social. Este é um dos problemas, pois - segundo uma das regras de roteiro de Hollywood - o acaso pode colocar o personagem em dificuldade, mas nunca tirá-lo dela.
Também há uma integração maior da passagem de Jesus Cristo na história. No original, o ícone bíblico é quase um figurante, já nesta versão há uma participação muito maior, inclusive colocando-o de forma mais natural, como um trabalhador comum, em vez de usar túnicas e tecidos vermelhos sobre os ombros como nos filmes bíblicos. Apesar de ter uma certa limitação como ator, Rodrigo Santoro está muito bem no papel.
Um destaque no elenco é o sempre eficiente Morgan Freeman. O ator está muito bem no papel de um africano que ajuda o protagonista a se reerguer.
Apesar de o terceiro ato não ser tão bem desenvolvido, em formas gerais, o roteiro - assinado por Keith R. Clarke (Caminho da Liberdade, 2010) e John Ridley (12 Anos de Escravidão, 2013) - é muito mais interessante e verossímil do que o anterior, assinado por Gore Vidal (Os EUA x John Lennon, 2006).
Como seria de se esperar, as cenas de ação ganham muitas possibilidades devido à tecnologia atual. Na cena de naufrágio, o diretor Timur Bekmambetov (Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, 2012) consegue mais ação e ritmo do que na versão anterior, porém na lendária cena de corrida de bigas, o novo Ben-Hur perde para o anterior.
Com uma linguagem contemporânea, o diretor consegue um excelente resultado, que pode atrair o público jovem, o saudosista e o religioso.