
FAZENDO A DIFERENÇA
por Claudia Anaf
Dentre os filmes do festival, Doutora Liza, da diretora e roteirista Oksana karas (High Above, 2019), aborda um dia na vida da médica Elizaveta Petrovka Glinka, filantropa, médica e ativista de direitos humanos. Em 2007 criou a Fundação Ajuda Justa, que fornecia cuidados paliativos gratuitos a pacientes com câncer, bem como roupas e abrigo aos menos favorecidos.

Ressalte-se que, embora não conste no filme, dado que a cineasta optou por um recorte num dia da médica, Dra. Liza (durante o conflito em Donbass, no leste da Ucrânia) organizou a evacuação de crianças doentes graves do hospital e as levou para tratamento na Rússia. Em 2006 a ativista foi encarregada de levar medicamentos para a Síria, mas o avião em que estava caiu no Mar Negro, o que causou sua morte prematura aos 54 anos.
O filme conta com atores de peso da Rússia. Chulpan Khamatova (Adeus Lenin, 2003), uma das atrizes de teatro e cinema mais celebradas do país, é Dra. Liza. Konstantin khabensky (O Procurado, 2008) - que recebeu o prêmio de ator honorário em 2006 - é Gleb, o marido da médica.

Doutora Liza nos possibilita conhecer alguém cuja vida fez a diferença no mundo. Alguém que viveu fazendo o bem aos outros, o que é cada vez mais raro numa sociedade onde impera o individualismo.

MUITO BARULHO, PRA POUCO RESULTADO
por Ricardo Corsetti
Típico filme que tenta se amparar apenas em qualidade de realização técnica (leia-se efeitos especiais e muita pirotecnia), Mate Ou Morra revela-se incapaz de disfarçar sua pobreza em termos de roteiro e clareza narrativa, apesar de todo espetáculo visual que, sem dúvida, oferece ao espectador.

A inexpressividade do ator escolhido como protagonista: Frank Grillo (Uma Noite de Crime, 2013), compromete ainda mais qualquer possibilidade de o filme ser algo além de mero entretenimento totalmente descartável. Nem mesmo a presença de um seleto grupo de coadjuvantes "estelares": Naomi Watts (21 Gramas, 2003), Mel Gibson (Mad Max, 1979) e Meadow Williams (American Traitor, 2020). No sentido de compensar o "lusco-fusco" apresentado pelo protagonista, consegue resolver o problema, graças a um roteiro confuso e mal desenvolvido.
É também perceptível que Mate ou Morra tenta emular muita coisa presente em dois filmes específicos (bem superiores, diga-se de passagem): Corra, Lola, Corra (Tom Tykwer, 1998) e Mandando Bala (Michael Davis, 2007). No entanto, o recurso às constantes idas e vindas no tempo, que por um lado tão bem funcionavam em Corre, Lola, Corra, aqui apenas tornam a trama de Mate ou Morra confusa e por vezes até enfadonha. E isso apesar de sua duração enxuta de apenas 1 hora e 40 minutos.
O humor que se tentou imprimir à trama, visando torná-la um misto de comédia/ação, assim como ocorre no citado Mandando Bala, também não funciona durante a maior parte do tempo. A personagem samurai Guan Yin (Selina Lo), por sua vez, é uma das poucas coisas que funcionam razoavelmente, conseguindo trazer humor a algumas cenas, mas, ainda assim, depois de certo tempo a repetição de seus bordões também perde a graça.

E além de todos os problemas citados, a direção empreendida por Joe Carnahan (A Perseguição, 2011), embora tecnicamente competente, carece de personalidade. Ou seja, não é possível identificar uma "assinatura de diretor", semelhante a que vemos na obra de autênticos mestres do cinema de ação, como: John Woo (A Outra Face, 1997) ou Tony Scott (Chamas da Vingança, 2003), por exemplo.
Em poucas palavras, Mate Ou Morra resume-se a muito barulho por quase nada a oferecer, além de algumas belas explosões e tiroteios. É realmente pouco, mesmo para atender aos padrões de um filme de ação verdadeiramente competente.
Atualizado: 17 de set. de 2021

CINE TESTOSTERONA
por Ricardo Corsetti
A primeira coisa a ser observada em Cry Macho: o caminho para a redenção é mesmo o fato de que somente o velho Clint Eastwood (A Troca, 2007) pra me fazer gostar de um filme que basicamente gira em torno de um ex-peão de rodeio, vivido pelo próprio Clint e um garoto fascinado por brigas de galo (o estreante Eduardo Minetti).

Típico exemplo das contradições que sempre caracterizaram a obra do veterano cineasta/ator, um conservador republicano cujo cinema é marcado por um belíssimo humanismo, por exemplo. Em Cry Macho, apesar do que normalmente poderia se esperar de um filme com esse ponto de partida, o que impera ao longo da trama é, acredite se quiser, o amor incondicional pelos animais.
Esta espécie de faroeste moderno, aliás, traz semelhanças e claras influências de alguns dos melhores trabalhos do velho Clint, tais como: Os Imperdoáveis (1992) e Gran Torino (2008), por exemplo.
Eis um belo filme sobre o poder da amizade, sobretudo. Embora longe de estar entre os melhores trabalhos de Mr. Eastwood, Cry Macho é mais uma demonstração acerca do talento e domínio narrativo que o veterano diretor inegavelmente ainda possui, no momento em que se propõe a contar uma história.
Merece também destaque o belo trabalho de fotografia que explora com maestria as cores quentes e o clima árido texano, já próximo à fronteira com o México.

Num momento em que boa parte dos ídolos (tanto no cinema quanto, sobretudo, na música) de minha geração já se foram, é mesmo lindo ver a vitalidade que do alto de seus 90 anos, o eterno "pistoleiro sem nome" da trilogia dirigida por Sergio Leone (Era uma Vez no Oeste, 1968) - um de seus principais mentores - demonstra, dando claros sinais de que ele ainda tem muita história pra contar e, portanto, muitos filmes ainda a realizar. Obs: que ótimo!