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FAMÍLIA NUMA TENTATIVA DE NÃO TER UM NATAL FRUSTRADO

por Vicente Vianna


Segundo filme da família Rovelli com filhos menores de idade. Desta vez um road-movie de Natal no estilo da franquia americana Férias Frustradas (Jeremiah S.Chechik, 1983) que teve versão natalina em 1989 e até um remake em 2015. Porém, o ator que vive o patriarca Carlo (Fabio De Luigi) não tem o carisma nem o humor de Clark, interpretado por Chevy Chase (Férias Frustradas, 1983). E o roteiro fica bem atrás no quesito pastelão da comédia americana e na sofisticação das comédias de família italianas como Feios, Sujos e Malvados (Ettore Scola, 1976) e Parente é Serpente (Mario Monicelli, 1992).


Alessandro Genovesi (Happy as Lazzaro, 2018), diretor e roteirista, e Giovanni Bognetti (Area Paradiso, 2012), roteirista, expõe as dificuldades e situações do casal Carlo e Giulia (Valentina Lodovini) com uma filha adolescente, Camilla (Angelica Elli), um menino de 9 anos, Tito (Matteo Castellucci) e um bebê de 4 anos, Bianca (Bianca). Todos os atores estão muito bem no papel. No primeiro filme era o pai que não tinha tempo para a família, pois o trabalho o deixava ausente, enquanto a mãe era consumida pelas tarefas da casa. Agora os papeis se invertem, como aconteceu no mundo com a ascensão da mulher no mercado de trabalho.


O roteiro também contempla o “amor/ódio” dos filhos por pais ”presentes/ausentes” e brinca com a nova tendência do “politicamente correto” e usa da fantasia como pano de fundo para o seu humor pouco engraçado.


Para os roteiristas soa engraçado o bebê chamar o pai de senhor mãe. A crise do relacionamento do casal chega ao ápice quando a mãe Guilia, por causa do trabalho, vai ficar separada da família no Natal. Porém o pai, Carlo, vem com a solução: um trailer para todos ficarem juntos, colocando o filme num road-movie.

A trama também aposta em situações constrangedoras leves como, por exemplo: o filho Tito vai ao banheiro da lanchonete chamar um caminhoneiro albanês, na frente do pai, de ladrão. Era o caso do caminhoneiro ignorar ou reclamar da falta de educação da criança para o pai, mas não, o pai foge apavorado com medo de apanhar e ainda acha que está sendo perseguido pelo caminhão, obstáculo este que joga o filme para frente, fazendo que a família se perca no caminho e atropele o Papai Noel, entrando no lado fantasioso do road-movie. O filme segue achando que o humor vem, além da troca de papeis, da repetição. Com o mesmo texto repetido, ora por um Papai Noel com falha de memória, ora por Carlo, ora por Guilia, isso não redime a falta de graça. Quando o Papai Noel é atropelado, no início um senhor de idade vestido de Papai Noel, a última coisa que deveria ser feita é levar o bebê para ver a vítima, que não se sabe se está morta ou não, mas levam Bianca, de 4 anos, para legitimar que era o Papai Noel ao falar: “Papai atropelou o Papai Noel”. Isso de ficar dúbio se é ou não o Papai Noel e no fim ser mesmo o lúdico, a magia da lenda do Natal ser verdade, também não é engraçado, mas ajuda a reforçar a velha fórmula das comédias românticas que vem como lição da boca do bom velhinho: devemos abrir mão do ideal profissional em prol da família. O mais importante é o tempo que passamos juntos aos nossos familiares que amamos incondicionalmente.


Depois de todos os conflitos resolvidos, o filme não sabe como acabar, aí a mãe - conciliada com seu papel perante seu marido e filhos - coloca uma música popular italiana, FELICITÁ (Albano & Romina – 1982) que resume toda a mensagem do filme e começa a cantar e a contagiar sua família feliz. E é certo que o diretor espera passar esse clima positivo para todos que assistirem e depois irem pra casa mais felizes do que entraram no cinema. Infelizmente não foi o meu caso.







RECICLANDO UMA MESMA HISTÓRIA ETERNAMENTE


por Ricardo Corsetti


Desde o final dos anos 90, pelo menos, tem sido comum vermos o veterano astro norte-irlandês Liam Neeson (A Lista de Schindler, 1993) fazendo uma série de filmes de ação quase sempre muito parecidos, às vezes até parecendo que os respectivos roteiristas/diretores simplesmente reciclam uma mesma história, com algumas pequenas alterações, eternamente.

E como já era de se esperar, não é muito diferente o que ocorre no mais recente filme de ação protagonizado por Neeson: Missão Resgate, até porque é bastante evidente que o filme é mais uma livre adaptação do clássico O Salário do Medo (1953), de Henri-Georges Clouzot (1907 - 1977), já readaptado antes, em 1977, como Comboio do Medo por William Friedkin.


Mas isso não significa que Missão Resgate seja necessariamente ruim, pelo contrário. Apesar da previsibilidade e falta de originalidade da trama, o clima de constante tensão - em cenas muito bem dirigidas - compensa, em grande parte, as demais deficiências do filme, como por exemplo alguns furos de roteiro bastante evidentes aos quais evidentemente não vou descrever aqui para não estregar a surpresa dos espectadores pré-natalinos no cinema.


Um elenco de apoio afiado, com destaque para o também veterano Laurence Fishburne (Matrix, 1999) e também para a jovem e bela Amber Midthunder (O Preço da Liberdade, 2016") ajuda em muito no êxito do filme.



Obs: transformar astros veteranos oriundos de um cinema mais autoral em protagonistas tardios não é novidade na história do cinema internacional, lembremos dos casos de Jean-Paul Belmondo (O Magnífico, 1975) e Alain Delon (Expresso Para Bordeaux, 1972) no cinema francês e, sobretudo, de Charles Bronson na franquia Desejo de Matar (1974 a 1994). Mas é fato que, em termos quantitativos, dificilmente alguém bate Liam Neeson no quesito protagonista maduro de filmes de ação.


Voltando a Missão Resgate, está acima da média dos filmes protagonizados por Neeson nos últimos anos, valendo portanto, uma conferida.







QUANDO O CARISMA DE UM ELENCO ESTÁ ACIMA DE TUDO



por Ricardo Corsetti


Ter um filme estrelado por Robert De Niro (Taxi Driver, 1976), Morgan Freeman (Um Sonho de Liberdade, 1994) e Tommy Lee Jones (Três Enterros, 2005), por si só, já é garantia de apelo junto ao grande público, sobretudo no que se refere aos espectadores acima dos 40 anos. E conforme já era de se imaginar, sem a menor dúvida, o grande destaque e ponto alto de Vigaristas em Hollywood.



Trata-se de uma simpática comédia de "humor negro", como se dizia nos velhos tempos não sujeitos ao politicamente correto (às vezes excessivo), que provavelmente não aprovaria esta classificação que, na verdade, tem a ver apenas com a ideia de um humor mais sarcástico e sem qualquer conotação racial.


Embora divertido e com alguns momentos memoráveis, Vigaristas em Hollywood corresponde aquele típico filme em que a ideia básica, a partir da qual se desenvolve, é bem melhor do que o resultado propriamente dito.


Nesse sentido, a presença de um elenco tão experiente e carismático ajuda muito a segurar o roteiro no momento em que este se rende a algumas piadas previsíveis e nem sempre tão eficientes.


Aliás, Robert De Niro e Morgan Freeman estão bem em cena, mas longe de apresentarem suas melhoras atuações, às vezes parecendo que estão atuando "no piloto automático". Tommy Lee Jones, por sua vez, é quem realmente rouba a cena ao viver um ex-astro televisivo hoje decadente e que, ainda por cima, ao tentar seu retorno triunfal via cinema, será vítima de um plano maquiavélico arquitetado pelo produtor de cinema (também decadente) vivido por De Niro e pelo mafioso vivido por Freeman.

O filme tem lá seu charme por fazer menção ao clássico universo da velha Hollywood, onde os astros de cinema eram autênticos semi-deuses e, de certo modo, se podia dizer o mesmo quanto aos produtores.


Também merece destaque a enorme quantidade de referências visuais e citações verbais a grandes clássicos da Era de Ouro em Hollywood, entre os anos 40 e até meados dos 60. Além disso, há algumas cenas envolvendo efeitos especiais (inesperados por se tratar, acima de tudo, de uma comédia) que, surpreendentemente, são tecnicamente muito bem realizadas.


É visível que, com algumas alterações de roteiro, Vigaristas em Hollywood poderia ter rendido um filme bem melhor do que agora vemos na tela. Mas a simples façanha de ter reunido, pela primeira vez, aliás, esse trio de monstros sagrados da história do cinema num mesmo filme já torna o diretor/corroteirista George Gallo (A Rosa Venenosa, 2020) digno de aplausos.




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