
BELA EMBALAGEM PARA UM CONTEÚDO APENAS MEDIANO
por Ricardo Corsetti
O diretor chileno Pablo Larraín já possuía uma carreira marcada por uma filmografia de peso, com títulos premiados internacionalmente, tais como: Tony Manero (2008), No (2012) e O Clube (2015), antes mesmo de "reiniciar" sua carreira em Hollywood com Jackie (2016).

Por isso mesmo, visto que estamos falando de um já maduro profissionalmente, seria de se esperar que víssemos no recente Spencer um filme que fizesse jus ao evidente processo de amadurecimento como autor vivido por Larraín nos últimos anos. No entanto, para minha surpresa e até relativa decepção, não foi bem isso que vi ao assistir ao referido filme em primeira mão.
É inegável, sejamos honestos, que ao ao menos em termos estéticos, Spencer é um filme belíssimo, graças à produção caprichadíssima, com destaque para o irretocável trabalho de direção de arte (cenografia e figurinos). Kristen Stewart (J.T. LeRoy, 2019) também está belíssima em cena como a icônica Lady Di, embora seu desempenho como atriz propriamente dito, seja apenas satisfatório.
Mas o principal problema de Spencer é mesmo a falta de substância do roteiro, focado aparentemente nos primeiros anos de realeza da ex-plebeia Diana Spencer (1961 - 1997). O filme tenta vender a ideia de uma Diana "rebelde" em relação às determinações e protocolos impostos pela família real britânica, mas o fato é que seu "radicalismo" não vai além de, por exemplo, se recusar a utilizar - durante um jantar - o vestido escolhido pelos servos da rainha Elizabeth. Oh, quanto radicalismo! Me poupem destes irrelevantes problemas de gente ultra-privilegiada. A verdade é que Spencer não consegue, em momento algum, gerar uma real empatia por Lady Di, pois, sejamos claros, a personagem (real) parece mesmo é uma grande chata aos olhos de qualquer ser humano com problemas reais e cotidianos.

Voltando a falar sobre questões técnicas, a fotografia do filme também não me agradou, com aquela aparência um tanto esbranquiçada e opaca. Até posso imaginar que esta opção, em termos de imagem, tenha a função de tentar nos transmitir a ideia de que o mundo interior de Diana é opaco ou algo do gênero. O recurso pode até funcionar narrativamente, mas não visualmente, pois acaba por enfeiar um filme tão deslumbrante em termos de cenografia e figurinos.
Ao contrário do bem superior primeiro trabalho hollywoodiano de Larraín (Jackie, 2016), não vejo personalidade ou mesmo a "mão de diretor" propriamente dita. O resultado é mesmo um filme um tanto insípido e raso, muito raso, que se vale apenas da beleza de sua protagonista e da construção de alguns belos planos. Mas é pouco, muito pouco para um diretor antes tão talentoso e com tanta personalidade.
Em resumo, Hollywood não parece mesmo ter feito bem a Larraín, que, para se adaptar (ou se enquadrar) ao velho "sistema de estúdio", perdeu sua espontaneidade e veia autoral. Uma pena mesmo...

Embelezando o universo dos filmes de ação e espionagem
por Ricardo Corsetti
O principal destaque em As Agentes 355, sem sombra de dúvida, é o quinteto multiétnico e multinacional que protagoniza o filme: a norte-americana Jessica Chastain (Ava, 2020), a espanhola Penélope Cruz (Vicky, Cristina, Barcelona, 2008), a alemã Diane Kruger (Em Pedaços, 2017), a quênio-mexicana Lupita Nyong'o (Nós, 2019) e a chinesa Bingbing Fan (Fora de Rumo, 2016). Um autêntico desfile de belas mulheres e todas atrizes de primeiríssima, é bom frisar.

No mais, o filme dirigido pelo estreante em direção de longa Simon Kinberg se apoia muito mais em várias sequências de ação de tirar o fôlego do que, propriamente, num melhor desenvolvimento da trama e maiores aprofundamentos na história pessoal de cada uma das personagens.
Jessica Chastain que, inclusive, assina a coprodução executiva, é - dentre todas as atrizes escaladas para compor esse "quinteto fantástico" - a mais experiente no gênero ação, segmento no qual vem se especializando nos últimos anos, tanto como atriz como também produtora de diversos títulos deste gênero, como no acima citado Ava (Tate Taylor, 2020).
O personagem de Penélope Cruz, por sua vez, embora divertido, beira o caricato, por reproduzir o eterno clichê hollywoodiano de tratar todo e qualquer latino como mexicano. Pois sim, claro que sua personagem melodramática e ultra estereotipada na trama tinha que ser "mexicana". A ótima Lupita Nyong'o (única autêntica mexicana do elenco, a propósito), carrega no sotaque britânico com êxito. E se confirma como uma das melhores atrizes da atual geração. A ultra experiente Diane Kruger, embora longe de apresentar um dos melhores desempenhos de sua carreira, está bem em cena. E acaba por formar uma ótima dupla com a personagem vivida por Jessica Chastain.

Obs: há uma cena, já lá pelo início da segunda metade do filme, que é involuntariamente divertida, pois as personagens (um quarteto até esse momento), já minimamente familiarizadas umas com as outras, decidem ir a um bar para beberem juntas e aliviarem um pouco a tensão por elas há pouco vivida. Pois bem, o detalhe engraçado é que elas parecem fazer um esforço pra esconderem o rótulo das garrafas (longnecks) de cerveja que estão segurando em suas mãos, embora seja muito óbvio que se trata da cerveja belga, Stella Artois. Aí me surgem dois questionamentos básicos: 1) as atrizes estariam nesse momento, realmente preocupadas em esconder o rótulo da cerveja que tomaram em cena para não fazerem propaganda gratuita e involuntária da marca em questão, ou, no fundo, é tudo marketing previamente planejado? 2) e caso a intenção fosse realmente esconder o rótulo das tais garrafas, numa produção milionária como essa, não seria muito mais fácil solicitar à produção que fossem impressos rótulos de uma marca fictícia para as tais garrafinhas? (rs)
Enfim, devaneios à parte, entre erros e acertos, As Agentes 355 cumpre bem seu papel como mero entretenimento, com aspirações ao empoderamento feminino, tão em voga nos dias atuais.

FAZENDO JUS AO LEGADO DE WES CRAVEN
por Ricardo Corsetti
Garota ao telefone, conversando com o assassino: "Peraí, me faça perguntas sobre filmes que eu conheço, como: 'Hereditário' ou 'A Bruxa', por exemplo". Garota explicando aos amigos, quais são as regras para de fazer um bom remake ou continuação: "Não se pode reiniciar uma franquia de sucesso, a partir do nada. É preciso respeitar a trama e os personagens originais. 'Brinquedo Assassino', "Halloween', etc; todos aqueles que não respeitaram essa premissa, se deram mal".

Eis apenas alguns exemplos dos diálogos afiados e espirituosos que permeiam Pânico (assim mesmo, sem qualquer indicação de que se trata do quinto filme e portanto, até nisso fazendo piada consigo próprio). As alfinetadas em relação aos badalados filmes do chamado "Post Horror" citados no primeiro parágrafo, bem como a direta menção aos "slashers limpinhos" (com pouco sangue e assexuados) hoje produzidos em Hollywood, deixam claro que a dupla de jovens diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet (também responsáveis pelo divertido "Casamento Sangrento", 2019), entende mesmo do riscado e está disposta a se orientar pelo humor inteligente e metalinguístico que sempre caracterizou a franquia, idealizada pelo saudoso Wes Craven (1939 - 2015).

Portanto, graças ao inegável talento dos jovens diretores, vemos nesta reencarnação de "Pânico" um filme bem satisfatório, sobretudo para os velhos fãs da franquia, dentre os quais me incluo e que - assim como eu - muito provavelmente também estavam preparados para verem uma bomba atômica (no mau sentido), mas, felizmente - assim como eu - se surpreenderão com o ótimo resultado.

O jovem elenco principal é também um dos pontos altos do filme, com destaque para a bela e ótima Melissa Barrera ("Um Bairro Em Nova Iorque", 2021) vivendo a protagonista Sam Carpenter, clara menção ao célebre diretor John Carpenter (Eles Vivem, 1988) e mais uma prova, portanto, de que os diretores são, de fato, bons conhecedores do gênero horror e, sobretudo, do subgênero slasher.
Destaque também para ótima Mikey Madison (Era Uma Vez em Hollywood, 2019) vivendo a insana Amber Freeman.
Obviamente, os principais personagens (sobreviventes, aliás) da franquia original, não poderiam deixar de fazerem especialíssimas participações: Sidney Prescott (Neve Campbell), Gale Weathers (Courtney Cox) e Dewey Rilley (David Arquette), todos presentes no elenco da célebre franquia desde o primeiro filme, rodado em 1996.
Sangria e senso de humor na medida certa, quanto a isso, os velhos fãs de "Pânico" podem ficar tranquilos, pois tais ingredientes fundamentais a um bom slasher, sem dúvida, não faltam neste novo filme.
O grande e saudoso Wes Craven pode descansar em paz, pois seu legado ainda está a salvo e em boas mãos.