UM CLÁSSICO MENOR
por Ricardo Corsetti
Relançado nos cinemas brasileiros, na última quinta-feira (15/08), o filme Revoada do cineasta sergipano José Umberto Dias (O Anjo Negro, 1972), originalmente lançado em 2008, nos faz relembrar um dos subgêneros mais típicos e recorrentes do cinema brasileiro: o filme de cangaço.
Infelizmente, porém, o filme não tem brilho e nem mesmo o ritmo necessário a um filme do subgênero em questão, para cativar o espectador.
Salvo a boa atuação do protagonista Lua Nova, vivido pelo experiente Jackson Costa (O Homem do Mar, 2006) e a presença da bela Analu Torres (Eu Me Lembro, 2005) vivendo a cangaceira Jurema, realmente pouca coisa se destaca ou é verdadeiramente digna de nota.
A trama confusa e mal desenvolvida, também não colabora para o êxito de Revoada. Além disso, o tom da maior parte das atuações coadjuvantes, é afetado e equivocado.
Por conta de tudo isso, talvez apenas o fator "redescoberta" do filme, rodado já há mais de uma década, possa atuar no sentido de despertar o interesse em vê-lo (ou revê-lo) por parte do público.
A UNIÃO FAZ A FORÇA
por Antônio de Freitas
O Último Pub começa com uma apresentação através de uma espécie de história em quadrinhos com fotos em preto e branco acompanhada de diálogos, já demonstrando a linguagem documental característica do diretor Ken Loach (Você Não Estava Aqui, 2019). Em poucos minutos, somos informados que uma família de refugiados sírios acabou de chegar na pequena cidade inglesa de Durhan e vai se instalar em uma das inúmeras casas geminadas do lugar. Isso não é visto com bons olhos por vários habitantes que presenciam a chegada e fazem questão de demonstrar sua hostilidade. A van que traz a mudança é circundada por valentões locais e um deles quebra a câmera da adolescente Yara, vivida pela novata Ebla Mari, que estava tirando fotos da rua antes de sair do veículo.
O solitário dono do pub local T.J. Ballantyne - interpretado por Dave Turner (Você Não Estava Aqui, 2019), - se solidariza com a família e ajuda Yara a se livrar do rapaz. Ela, mais tarde, o procura no trabalho para agradecer e pedir para que a ajude a identificar o valentão. Isso é o gatilho para o início de uma amizade e PJ embarca na missão de ajudar aqueles refugiados a se adaptarem a sua nova moradia e enfrentarem a rejeição dos moradores locais. E presenteia Yara com uma antiga câmera fotográfica de seu pai cujas fotos documentando a vida da cidade decoram o pub já decadente e apenas frequentando por senhores de idade.
Inspirada pela exposição do pai de PJ e conduzida por ele, a fotojornalista iniciante fotografa a cidade e seus habitantes. Pouco a pouco ela se dá conta de que eles representam duas tragédias: a da cidade que perdeu a mina que dava empregos e a da guerra que destruiu a vida de Yara. Notando que a hostilidade da cidade é uma válvula de escape da pressão exercida pela péssima situação em que se encontram os habitantes e, baseada nas experiências da guerra na Síria, Yara vai propor que tentem reviver o pub de PJ para que ele volte a ser um ponto de encontro dos moradores. Assim, passando por cima das diferenças culturais, poderiam se unir para enfrentar juntos os problemas que assolam aquele local.
Essa luta da dupla torna-se a espinha dorsal de um filme repleto de pequenos e belos momentos da vida real. As fotografias de Yara são exibidas no pub e leva os habitantes dali a darem uma olhada em si mesmos, em uma das várias cenas simbólicas interpretadas por um elenco que é feito na maioria por pessoas comuns. Esta é uma característica forte dos filmes de Ken Loach: elenco de novatos, não profissionais e muita improvisação em locações reais. Ele cria cenas, personagens e histórias que refletem problemas atuais que vemos em notícias e vídeos na Internet. No caso desse filme é a queda do padrão de vida da Europa após a mudança do cenário econômico mundial que leva a polarização ideológica, violência e xenofobia.
Para uma população frustrada, a culpa é sempre dos outros. No caso, os imigrantes. Mas nesse filme, com delicadeza e muita poesia, Ken Loach mostra a história de uma pequena tentativa de estabelecer um diálogo entre pessoas que, apesar de serem tão diferentes, podem carregar consigo mesmas sentimentos iguais.
MAIS DO MESMO, MAS COM ESTILO
por Ricardo Corsetti
Seguindo a praticamente inevitável tendência do cinema norte-americano contemporâneo, onde todo sucesso de público e em termos de bilheteria acaba virando franquia, já é fato que o criativo e bem-sucedido Um Lugar Silencioso (2018), idealizado pelo jovem diretor/roteirista John Krasinski, chega ao terceiro filme que é, na verdade, um "spin off" do primeiro, realizado em 2018.
A propósito, aqui Krasinski apenas assina a produção, delegando a direção e o roteiro ao também jovem diretor norte-americano Michael Sanorski (autor do interessante Pig, 2021).
É bastante óbvio, para quem viu o ótimo filme original de 2018, que esta sequência, embora possua inegáveis méritos técnicos - boa direção, ritmo frenético, elenco carismático, ótimo desenho de som, etc - sem dúvida, perde muito em termos de fator originalidade, em relação a Um Lugar Silencioso de 2018, este sim, um filme realizado quase que inteiramente sem diálogos e com um orçamento bem mais modesto, em relação à mega produção de agora.
A questão do protagonismo negro, por intermédio da ótima Lupita Nyong'o (Nós, 2019) e também do coadjuvante de peso Djimon Honsou (Gladiador, 2000) é super válida e importante, sem dúvida. Embora seja também fato que, na prática, apenas atende a uma demanda contemporânea de mercado.
Com ritmo fluente, apesar do desenvolvimento de trama um tanto mal explicado, Um Lugar Silencioso - Dia Um, sem dúvida, promete ser mais um sucesso de público e, portanto, se preparem para novas sequências.