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BOAS IDEIAS MAL APROVEITADAS POR FALTA DE OUSADIA

por Ricardo Corsetti

Confesso não ser um grande admirador do Batman, ou mesmo de qualquer outro super-herói, para ser sincero. E, por isso mesmo, creio que o fato de não ver um filme sobre o tal homem-morcego com olhos de fã me permite isenção para analisar com a "frieza" e objetividade necessárias, um filme sobre o referido personagem.

Dito isso, o Batman de Matt Reeves (Cloverfield - O Monstro, 2008) me soa como um bom filme, mas longe de ser excepcional. Menos pretensioso e "messiânico" do que o Batman de Christopher Nolan - "Batman - O Cavaleiro das Trevas", de 2008 - e com menos charme e personalidade do que a clássica versão de Tim Burton - Batman - O Retorno, de 1992 -, o Batman de 2022 me parece um misto de filme Noir genérico (sem a coragem necessária, no entanto, para assumir a total amoralidade de todos os personagens que caracteriza o subgênero) com elementos claros de Jogos Mortais (James Wan, 2004).


Robert Pattinson (Cosmópolis, 2012) está absolutamente insosso e sem personalidade como protagonista, sendo facilmente engolido por ótimos coadjuvantes, com destaque para a bela e talentosa Zoe Kravitz (Divergente, 2014), compondo uma "Mulher-Gato" com muita personalidade e atitude. E também para John Turturro (O Grande Lebowski, 1998), vivendo um típico "Capo" ítalo-americano de primeiríssima. Colin Farrell (Tigerland, 2000), por sua vez, praticamente irreconhecível - graças à pesada maquiagem -, apresenta um "Pinguim" minimamente aceitável, com um estilo de atuação claramente calcado em Robert De Niro, mas, evidentemente, jamais o será.

Paul Dano (Pequena Miss Sunshine, 2006) também está muito bem em cena, embora seu personagem, na prática, esteja muito mais para o "Jigsaw" de "Jogos Mortais" do que para o clássico "Charada" propriamente dito.


Aliás, se a ideia era mesmo copiar tão descaradamente a estética e estilo do célebre filme de James Wan - Jogos Mortais -, conforme ocorre em diversos momentos de "Batman", melhor seria terem convidado o ótimo e experiente diretor malaio radicado nos EUA para dirigir o filme, não é mesmo?

Além disso, há alguns problemas e contradições no desenvolvimento, tanto da trama como do personagem principal. Por exemplo: o novo Batman começa o filme "porradeiro", quase tarantinesco, para, pouco tempo depois, embarcar num discurso politicamente correto do tipo "não se pode combater o mal com o próprio mal", etc. Outra ótima ideia mal aproveitada: em determinado momento da trama parece que o filme realmente vai apostar na ousada ideia de revelar o pai de Bruce Wayne como um grande canalha, fazendo a ponte, aliás, com o que ocorre em Coringa (Todd Phillips, 2019) - do mesmo estúdio -, mas o roteiro logo abandona essa ideia, deixando apenas no ar a possibilidade.


Em suma, "Batman" é um filme de boas ideias e até com certa personalidade em relação às encarnações anteriores do personagem, mas, sinceramente, faltou coragem ao diretor/corroteirista Matt Reeves, para desenvolvê-las de forma correta e verdadeiramente ousada.







DIVERTIDO E MUITO BEM REALIZADO


por Ricardo Corsetti


Produzida e dirigida pelo francês Laurent Zeitoun, mundialmente conhecido após ter produzido um dos maiores sucessos do cinema francês contemporâneo: Intocáveis (Eric Toledano, 2011). A recente animação Coração de Fogo prova ser possível realizar um ótimo filme neste formato fora do monopólio Disney/Pixar.

Divertido e comovente, Coração de Fogo tem tudo para agradar a crianças e adultos, graças à simpática e empoderada protagonista Georgia Nolan - dublada por Olivia Cooke, co-protagonista do ótimo The Sound of Metal (2019) - na versão original do filme. E, tendo como seu pai, o simpático ex-herói do Corpo de Bombeiros Shaw Nolan, dublado por Kenneth Branagh (diretor e protagonista de Morte no Nilo - 2021).


Apesar da trama relativamente simples, o que aliás é plenamente compreensível e até bem vindo - devido à necessidade de o filme ser acessível e compreensível aos pequenos espectadores -, a ótima direção e ritmo ágil de Coração de Fogo devem torná-lo bem agradável também ao público adulto.


Superação das barreiras impostas pela vida, empoderamento feminino e a importância da real amizade em nossas vidas, são temas aqui abordados de forma leve e ao mesmo tempo bastante objetiva.



A duração relativamente enxuta (1 hora e 32 minutos) também colabora para o êxito desta animação. Além, é claro, de personagens coadjuvantes carismáticos, como o motorista de carro de bombeiros que adormece no volante o tempo todo e o químico de físico avantajado que, no entanto, parece ter medo até da própria sombra, garantem a diversão.


Simpático, criativo para os padrões temáticos do desenho animado e bem dirigido, tem tudo para ser um sucesso neste verão à brasileira.






UM FILME MENOR PARA UM ÍCONE ETERNO



por Ricardo Corsetti


Quem tem mais de 40 anos e, portanto, de algum modo viveu ou ao menos foi "afetado" pela cultura oitentista de alguma forma, com certeza se lembra do mais célebre personagem criado pelo famoso cartunista Angeli: Bob Cuspe, o arquétipo perfeito do punk brasileiro dos anos 80.

Por isso mesmo, os "tiozões" roqueiros da minha geração devem ter aguardado, assim como eu, com bastante expectativa em relação a esse primeiro longa-metragem dedicado ao célebre personagem. Porém, sinto informa-los que, também assim como eu, devem se decepcionar com o resultado.


O filme dirigido por César Cabral e co-escrito por Leandro Maciel (Dossiê Rê Bordosa, 2008) que, aliás, foi meu professor de roteiro, nos meus tempos de estudante de Cinema, se utiliza de diversas técnicas: animação clássica, stop-motion, linguagem semi-documental, etc; para contar paralelamente o contexto de criação do personagem em conjunto com uma trama ficcional paralela, o que acaba por tornar o resultado um tanto confuso e desigual, sobretudo para quem não conhece previamente o personagem-título, bem como a história (trajetória) do cartunista Angeli.


Outro erro, na minha opinião, foi a opção fácil e óbvia de se colocar uma celebridade presente em nove a cada dez filmes brasileiros contemporâneos, Milhem Cortaz ("A Concepção", 2006) para dublar a voz de Bob Cuspe, pois nesse caso, a figura do ator (celebridade) acaba se sobrepondo aquilo que deveria ser o foco central do filme: o próprio personagem Bob Cuspe.


Por outro lado, a participação do próprio Angeli (em forma de animação), narrando com sua própria voz trechos do filme, ajuda a gerar um mínimo de empatia por uma trama confusa e, na verdade, quase inexistente.

Destaque para as cenas em que Bob Cuspe é atacado por seres mutantes, todos com cara do cantor Elton John. Eis uma boa demonstração do humor deliciosamente politicamente incorreto que sempre caracterizou as histórias e personagens do cartunista paulista. Humor este que, cá entre nós, dificilmente teria espaço na mídia contemporânea, caso não estivéssemos falando de um artista já consagrado há décadas.


Há mesmo poucos momentos verdadeiramente inspirados no filme, que chega a cansar, apesar de sua de duração enxuta, inferior a 90 minutos.

Uma pena mesmo, pois, sem sombra de dúvida, um personagem tão icônico e arquetípico acerca do roqueiro (punk) à brasileira, sinceramente merecia um filme melhor, como por exemplo o curta-metragem de autoria da mesma dupla: Dossiê Rê Bordosa, realizado em 2008.



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