
MAIS DO MESMO, MAS COM EFICIÊNCIA
por Ricardo Corsetti
Assim como já havia ocorrido com outros astros hollywoodianos "maduros", tais como: Russell Crowe (Fúria Incontrolável, 2020) e, sobretudo, o grande Liam Neeson (Assassino Sem Rastro, 2021), o eterno personagem do épico "300" (Zack Snyder, 2006), Gerard Butler parece estar prestes a engrossar o filão de veteranos que aderiram à onda de estrelar os novos (e genéricos) "suspenses de ação", conforme demonstra seu mais recente trabalho Caça Implacável.

O novo filme estrelado por Butler, embora siga à risca a fórmula característica do subgênero, seja graças ao carisma do astro escocês, seja graças ao talento narrativo do diretor Brian Goodman (Borboleta Negra, 2017), não decepciona.
Caça Implacável, aliás, se assemelha muito aos clássicos telefilmes dos anos 90, aos quais - aqui no Brasil - víamos na TV aberta, nas sessões Super Cine das nossas noites no sofá de casa. Não por acaso, a origem do citado diretor é justamente a TV norte-americana, o que explica sua evidente familiaridade com o formato.

Ritmo certeiro e clima de tensão permanente caracterizam o longa, que peca apenas no momento em que recorre a uma vexatória cena de explosão (incêndio) em CGI (computação gráfica), capaz de provocar riso nos demais presentes à sessão. Mas, graças aos demais méritos e acertos citados, a risível cena não chega a comprometer o resultado geral.
E apesar do desfecho mais do que previsível, Caça Implacável nos brinda com entretenimento ágil, certeiro e despretensioso. Vale, portanto, uma boa conferida!

QUANDO HISTÓRIA E FICÇÃO CAMINHAM JUNTAS
por Ricardo Corsetti
Terceiro filme da saga do simpático arqueólogo Tadeo, iniciada em 2013, As Aventuras de Tadeo e a Tábua de Esmeralda combina fatos históricos com muita ficção, mas o faz com competência e boa dose de diversão.

É fato que Hollywood sempre diluiu elementos históricos em filmes comerciais dedicados ao grande público, muitas vezes chegando a criar um verdadeiro pastiche da realidade histórica.
Como aqui falamos de um filme de animação, dedicado sobretudo ao público infanto-juvenil, é até compreensível a tendência à não fidelidade absoluta aos fatos históricos, mas, visto que o jovem diretor/roteirista espanhol Enrique Gato (As Aventuras de Tadeo, 2013) conduz sua trama com muita competência e sem exagerar na diluição da história real aos quais cita ao longo do filme, o resultado até que é bem positivo.
O inegável carisma da dupla formada pelo protagonista Tadeo e seu fiel parceiro, a divertida Múmia fanática por tecnologia e redes sociais, também colabora muito para o êxito do filme.

Destaque ainda para a arrogante e involuntariamente divertida faraó Ra-Amon-Ha (ou simplesmente, Ramona) que logo descobrirá o imprescindível valor da amizade ao conviver com o ingênuo Tadeo e a atrapalhada Múmia.
Com produção caprichada e ritmo ágil, As Aventuras de Tadeo e a Tábua de Esmeralda tem tudo para divertir e a agradar a garotada nesta primavera à brasileira que agora se inicia.
Atualizado: 12 de nov. de 2022

AS DIFERENTES FACES DE UM MESMO SANTO HOMEM
por Ricardo Corsetti
O espanhol Antônio Maria Claret (1807-1870), figura de extrema relevância para o catolicismo moderno, é o objetivo desta competente cinebiografia dirigida pelo, também espanhol, Pablo Moreno (Luz de Soledad, 2016).

Pouco tempo após ser ordenado sacerdote, Claret logo se destaca por suas atitudes não convencionais em relação à exclusão social em sua terra natal e ao, evidentemente, incomodar a elite econômica de seu país, é estrategicamente enviado a Santiago de Cuba, sendo que, nesse momento, a pequena ilha ainda pertencia à coroa espanhola. Lá, Claret é nomeado arcebispo local.
Mas o sempre contestador Claret, não tarda a também incomodar a elite agrária cubana, ao se posicionar veementemente contra a manutenção da escravidão na ilha.
Em função disso, Claret é enviado de volta à Espanha e, surpreendentemente, escolhido pela própria rainha Isabel II para ser seu confessor oficial e assim, obviamente, passa a viver confinado na corte espanhola, cercado pelo luxo e riqueza aos quais ele havia renegado até então.
Nesse momento, o filme perde força e se torna até um tanto tedioso, adotando um formato novelesco e sem a clareza e profundidade que seriam necessárias para analisarmos e tentarmos compreender as contradições que habitavam em Claret: em sua breve passagem por Cuba, manifestando uma postura de engajamento social - quase socialista - e pouco tempo depois, ao retornar à Espanha, se convertendo num monarquista conservador.

Mas O Santo de Todos, além de ser bastante interessante e competente ao retratar Claret em sua juventude contestadora na primeira metade do filme, também apresenta outras qualidades, tais como o excelente trabalho de reconstituição de época em termos de cenografia e figurinos. E, sem dúvida, vale uma boa conferida.