Atualizado: 24 de jun. de 2023

RELAÇÕES SOCIAIS (OU AUSÊNCIA DE) NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
por Ricardo Corsetti
Singelo e divertido filme sobre a superficialidade das relações humanas no mundo contemporâneo, caracterizado pela frieza das redes sociais e quase total ausência de interação real entre os indivíduos.
Pronto, Falei se insere na tradição da comédia romântica nos moldes norte-americanos, mas o faz com personalidade, adaptando sua linguagem ao humor brasileiro.

A perfeita sintonia entre o afinado elenco, capitaneado pelo jovem Nicolas Prattes (O Segredo de Davi, 2018), vivendo o tímido revisor de textos, Renato, é realmente perfeita.
Destaque também para o personagem vivido por Rômulo Arantes Neto (Quem Vai Ficar com Mário?, 2021), um autêntico "amigo da onça". O eterno "galã cafajeste" das telenovelas, realmente mostra aqui, bastante talento dramático.
E a belíssima Duda Santos (estreante em longa-metragem), também rouba a cena ao viver a injustiçada jornalista investigativa de um grande jornal.
O experiente diretor de séries Michel Tikhomiroff (A Garota da Moto, 2016), mostra talento também para o cinema e, sobretudo, para o eficiente trabalho de direção de atores.

Longe de ser o mais original filme já realizado em terras brasileiras e apesar de suas claras referências ao já citado subgênero norte-americano Comédia Romântica, Pronto, Falei no entanto, graças a seu roteiro simples, mas muito eficiente e simpático, tem tudo para ser o filme perfeito para ser assistido neste fim de ano, período sempre caracterizado pelas reflexões a respeito do rumo e escolhas que determinam nossas vidas.
Atualizado: 24 de jun. de 2023

OVERDOSE DE "AMERICANISMO"
por Ricardo Corsetti
Típico filme que prima muito mais por seus méritos técnicos do necessariamente pela história/trama abordada, Irmãos de Honra se insere claramente na tradição dos filmes ufanistas e de propaganda Internacional do american way of life (estilo de vida norte-americano).

A trama baseada na história real de Jesse L. Brown (1926-1950), o primeiro aviador negro das Forças Armadas da terra do Tio Sam, poderia ser retratada de uma maneira bem menos apelativa e altamente ficcionalizada, não fosse a necessidade de se exaltar, como sempre, a sacrossanta América como "terra das oportunidades" e autêntico "oásis de democracia" (embora durante a época aqui abordada, indivíduos negros ainda fossem pendurados em árvores e enforcados em determinadas regiões dos EUA, com a conivência e omissão estatal).
E a verdade é que, até mesmo os méritos técnicos de Irmãos de Honra são um tanto discutíveis, visto que as cenas de batalha aérea durante a Guerra da Coréia (a melhor coisa do filme, sem dúvida), demoram muito para, de fato ocorrerem, numa trama arrastada e por vezes cansativa, onde as 2 horas e 19 minutos de duração do filme, em determinados momentos, pesam como chumbo, devido ao aparente pouco talento narrativo do jovem diretor e roteirista J.D. Dillard (O Mistério da Ilha, 2020).

Me incomoda também a figura de um indivíduo (protagonista) que, na prática, nunca está de fato lutando contra um sistema baseado na exclusão racial e social, mas sim, para ser incluído neste mesmo sistema. Ao passo que o filme apresenta este ato extremamente incoerente como algo a ser louvado.
Voltando a falar sobre questões técnicas e narrativas, é praticamente impossível não ser tentado a ver Irmãos de Honra como uma espécie de Top Gun (Tony Scott, 1986) transposto à época da Guerra da Coréia. Falta, porém, ao jovem J.D. Dillard o talento narrativo do saudoso Scott (1944-2012).
Em síntese, a verdade é que pouco mesmo se salva no filme, com exceção de algumas boas cenas de batalha aérea, etc, que, em relação ao incômodo que me causa a nauseante propaganda ideológica relativa ao "heroísmo" da eterna "polícia do mundo" (EUA), não me confortam nem um pouco.
Atualizado: 24 de jun. de 2023

MONTANHA RUSSA DE PANCADARIA
por Antônio de Freitas
Frente a Frente nos mostra, logo nas primeiras cenas, que é um autêntico produto do cinema policial de Hong Kong que segue a tradição de nos apresentar filmes repletos de cenas de ação com muita pancadaria, em lutas muito bem coreografadas que fazem o deleite dos fãs há quase 50 anos. Em princípio, pode até parecer apenas mais um dos produtos sempre parecidos uns com os outros lançados aos borbotões pela fábrica chinesa de cinema, que consegue até competir com Hollywood. Mas, logo que o nome Benny Chan (Big Bullet, 1996) aparece na tela, podemos ter a certeza de que veremos uma avalanche de pancadaria assinada e com um protagonista bem interpretado.

Nesse segundo item temos a presença do carismático e muito competente Donnie Yen (Mulan, 2020), que interpreta Cheng Sung-Bong, um policial bem casado, certinho, que vai se meter em encrenca da grossa quando bate de frente com o sistema da polícia cada vez mais corrupta e burocrática.
Cheng é colocado de fora em uma missão importante onde vários colegas são mortos, vai ser dominado pelo sentimento de vingança e bater de frente com o ex-policial Yau Kong-Ngo, que acabou de ser libertado da prisão e procura vingança contra aqueles que o puseram ali. Este interpretado por um misto de ator, cantor e lutador de artes marciais, que é uma super celebridade na Ásia, Nicholas Tse (Air Strike, 2018). Dois personagens antagônicos movidos por um forte sentimento de vingança vão se colidir e quebrar o pau nos submundos de Hong Kong, em uma história repleta de ambiguidades cujos detalhes vão se revelando aos poucos, em pistas que vão sendo apresentadas no meio das mirabolantes perseguições e brigas.

Benny Chan, no seu último filme (morreu em 2020 sem ver este filme finalizado), realiza uma obra que pode ser acusada de ser um amontoado de clichês e lembrar muitos filmes policiais americanos da década de 90, onde se questionava muito as instituições e a ética, com personagens que atravessavam a linha que separa a justiça do crime vindos de lados opostos. Ele realmente se apoia nos clichês, mas o faz de forma magistral, com imagens espetaculares e personagens muito bem caracterizados, repletos de camadas. Inclusive o vilão que, como em boa parte de seus filmes, é humanizado e foge das caricaturas típicas do cinema de ação asiático.
Reforçando a equipe está o icônico coordenador e coreógrafo de lutas japonês Kengi Tanigaki (G.I. Joe Origens: Snake Eyes, 2021) que entrega verdadeiros balés em tiroteios e lutas magnificamente orquestradas.
O Cinema Chinês está conseguindo formar uma linha de produções de apelo popular com qualidade e inventividade. Não é à toa que já tem uma legião de fãs e consegue se impor no mercado, tornando-se uma alternativa ao repetitivo cinema americano. Este filme é um exemplo disso, entrega tudo que promete e deixa o espectador colado na poltrona em uma deliciosa montanha russa de pancadaria que, como já disse, parece mais um grotesco balé.