Atualizado: 23 de jun. de 2023

MAIS DO MESMO EM EMBALAGEM FOFA E RECICLADA
por Ricardo Corsetti
E só comprovando que a tendência às intermináveis franquias, chegou mesmo para ficar na Hollywood contemporânea, uma das mais populares (e lucrativas) entre tais franquias (Transformers) chega ao sétimo filme!

E como já era de se esperar, não há grandes novidades em relação à fórmula já consagrada no que se refere à famigerada franquia; salvo o fato de que há aqui, uma evidente tentativa de adequação aos novos tempos, visto que, ao contrário do que ocorria nos filmes anteriores, não temos aqui o estereótipo clássico do cidadão norte-americano padrão, como protagonistas, mas sim, um simpático filho de imigrantes latinos, vivido pelo carismático Anthony Ramos (Em Um Bairro de Nova Iorque, 2021) e também uma empoderada mulher afro-americana, vivida por Dominique Fishback (Judas e o Messias Negro, 2021).
No mais, não se vê nada além de uma trama genérica e calcada no melodrama, combinada a muitas e muitas cenas de ação vertiginosa, é claro.

O jovem diretor Steven Caple Jr (Rapture, 2020) se mostra habilidoso em termos propriamente técnicos, mas nem tanto, em termos narrativos ou de desenvolvimento de trama. O que resulta, obviamente, num filme extremamente previsível e praticamente sem qualquer surpresa.

Outra coisa que incomoda bastante é a clara intenção de se tentar agradar ao público ao todo custo, mesmo que isso gere absurdos do tipo: absolutamente ninguém morre de fato ao longo da trama. Ou melhor, alguns supostamente perecem em determinadas situações para que, logo em seguida, se encontrem as explicações mais estapafúrdias do mundo para se justificar como o personagem não pereceu de fato, embora fosse inevitável escapar são e salvo em tais situações.
Em resumo, ousadia quase zero e opção ineficiente no sentido de se tentar agradar ao espectador a todo custo caracterizam Transformers - O Despertar das Feras.
É, sinal de cansaço é mesmo pouco para a célebre franquia.
Atualizado: 23 de jun. de 2023

UM OUTRO OLHAR PARA A 2º GUERRA MUNDIAL
por Antônio de Freitas
Três Mulheres: Uma Esperança (Sakia Diesing, 2022), merece destaque por fazer parte de um pequeno grupo de obras que apresentam um outro olhar para a 2º Guerra Mundial que, até pouco tempo atrás e com poucas exceções, sempre foi apresentada através do ponto de vista dos americanos e ingleses. E, antes de tudo, com personagens apenas homens e militares, onde a mulher aparecia quase sempre como interesse romântico, esposa preocupada ou vítima esperando ser salva.

Mas este filme quebra o padrão ao apresentar uma história com 3 protagonistas mulheres sendo duas delas civis, assim como o - pouco utilizado - momento do final da guerra no território alemão sob o ponto de vista dos civis.
Em abril de 1945 a Alemanha está desmoronando com a invasão dos aliados e soviéticos que avançam sobre todas as cidades. Como medida desesperada, 3 trens repletos de prisioneiros judeus partem do campo de concentração Bergen-Belsen para fugirem dos aliados e servirem como reféns e moeda de troca. Um deles é abandonado pelos soldados alemães ao lado de uma pequena cidade no campo e é esta a primeira cena do filme quando apresentam a primeira protagonista. É Simone vivida por Hanna van Vliet (Amor Moderno Amsterdã, 2022), prisioneira judia holandesa que está no trem com o marido “banana” e ferido. Ela percebe que estão livres e decide procurar por ajuda. Ao sair do trem, depara com a chegada de uma tropa soviética da qual faz parte a atiradora Vera interpretada por Eugénie Anselin (O Capitão, 2017).

Orientados pelos soldados, eles se dirigem à pequena cidade onde encontram o caos instalado com a ação truculenta dos soviéticos que estupram mulheres, enforcam colaboradores e membros do partido Nazista sem fazerem perguntas. A população é, em sua maioria, de mulheres e muitas delas fogem para a floresta e queimam seus uniformes ou braçadeiras para não serem mortas. Entre elas está uma mocinha que, traumatizada por ter visto a mãe ser morta pelos soldados, se recusa a tirar seu uniforme pardo de estudante nazista. Ela é Winnie, interpretada pela bela Anna Bachmann (Tatort, 2021) que ainda não sabe o que o partido Nazista andou fazendo.

A situação é de caos total com a violência dos soldados, o descaso das autoridades soviéticas, surto de tifo, fome e o pânico que tomou conta dos habitantes e dos recém-chegados judeus. No meio desse inferno as três moças se encontram, não se entendem no início por serem de grupos totalmente opostos e falarem línguas diferentes, mas acabam achando um ponto em comum: elas são mulheres sofrendo por causa de uma guerra criada pela sociedade machista. Assim cada uma delas completa seu arco dramático. Vão se amparar mutuamente e lutar pela sobrevivência.
O filme tem seus acertos e muitos erros. A edição faz cortes abruptos e acaba prejudicando o desenvolvimento da história. Em momentos - que deveria ser mais nervosa - acaba ficando lenta demais. Falta uma caracterização melhor nos figurinos que parecem estar todos muito novinhos, erro que se evidencia nos prisioneiros que saem do trem, pois ali deveria ter roupas rasgadas e sujas, fruto de uma viagem árdua e de muitos maus tratos. Na direção/roteiro dá para sentir a falta de uma apresentação melhor das protagonistas para termos uma ideia dos motivos que as movem. Uma falta de capricho ou sinal de pouca prática da diretora Sakia Diesing que se nota nos momentos de violência e ação mostrados de forma tímida e com pouco resultado em termos de carga dramática. Todos esses detalhes demonstram que ela não soube lidar com um orçamento apertado e a falta de uma equipe especializada.
Mas a ideia e a intenção da história - onde pessoas tão diversas se unem por se reconhecerem como participantes de um grupo que sofre igualmente por serem mulheres em uma sociedade onde quem decide é o sexo oposto - é interessante. Essa proposta se sobrepõe aos erros e acaba nos entregando uma obra repleta de boas intenções que nos levam a novos questionamentos sobre este momento da história.
Atualizado: 23 de jun. de 2023

BOA PIADA, MAS QUE DURA O TEMPO DE UMA TRAGADA
por Ricardo Corsetti
Os jovens diretores e roteiristas estreantes André Sigwalt e Augusto Soares tem, sobretudo, o mérito de terem bancado - com recursos próprios - um longa-metragem, diga-se de passagem, num país onde, nos dias de hoje, nem mesmo bilionários, herdeiros de banco, etc; ousam produzir um filme de forma totalmente independente.

Muito melhor em termos de atitude do que de resultado propriamente dito, O Mestre da Fumaça diverte com sua inusitada proposta: combinar o clássico Kung Fu chinês, com, digamos assim, muitos quilos de uma certa "erva natural".
O problema é que, conforme já era de se esperar, a eficiência da "piada" dura o tempo de uma boa tragada e, no decorrer da trama, acaba se perdendo e cansando um pouco. Sem dúvida, a ideia funcionaria muito melhor num curta-metragem, por exemplo.
Ainda assim, o simples fato de vermos um típico "filme de gênero" no estilo ação/artes marciais, sendo realizado num país que, há muito tempo, parece ter desaprendido a fazer filmes de gênero propriamente dito, já é digno de nota.

No entanto, a coreografia das cenas de luta nem sempre convence e apresenta algumas claras limitações que comprometem a verossimilhança. Porém, conforme foi mencionado pela própria dupla de diretores/roteiristas durante coletiva de imprensa pós sessão de cabine, houve pouquíssimo tempo para preparar os atores (quase todos não familiarizados com o universo das artes marciais, aliás) devido às claras limitações orçamentárias típicas de uma produção independente. Descontinho para eles neste sentido, portanto.

O ponto alto de O Mestre da Fumaça, sem dúvida, é a presença do ótimo Tony Lee (Made in China, 2014) vivendo tanto o próprio mestre da fumaça do título, como também a matriarca de um clã mafioso que só fala chinês, quase irreconhecível, graças à ótima qualidade de sua atuação.
Livremente inspirado no ultra-clássico primeiro filme estrelado pelo astro chinês Jackie Chan, Big and Little Wong Tin Bar (1962), O Mestre da Fumaça diverte com boa eficiência, apesar de suas limitações técnicas e em termos de desenvolvimento de roteiro. Mas vale uma conferida.