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DESBRAVANDO HOLLYWOOD


por Ricardo Corsetti


É fato que pouquíssimos são os exemplos de diretores estrangeiros que, ao tentarem fazer a transição em relação ao seu idioma e país natal para o cinema mainstream norte-americano, são bem-sucedidos no sentido de não perderem sua personalidade.

Felizmente, o argentino Damian Szifron, sim, o autor do já clássico Relatos Selvagens (2014) parece ser mesmo uma exceção à regra. Pois sua estreia em Hollywood com o ótimo Sede Assassina, embora seja um filme de gênero (comercial), trata-se de um filme com muito estilo e, portanto, com "assinatura" de diretor.


Planos belíssimos, direção segura, ritmo ágil e também uma perfeita junção entre a belíssima fotografia e a direção de arte caracterizam este competente suspense/policial.


A crítica social inteligente e bem-humorada - característica de praticamente toda a filmografia do diretor/roteirista - está presente nas entrelinhas da trama, dentro do que é possível para os padrões de um filme comercial norte-americano, é claro.



Curiosamente, inclusive, a paleta de cores básica que caracteriza a linda fotografia do filme, bem como a direção de arte, é inteiramente calcada em vermelho, azul e branco, ou seja: as cores da bandeira norte-americana. Mas isso nunca ocorre com a intenção de louvor aos EUA, muito pelo contrário. Há claramente a irônica intenção de se passar a seguinte mensagem: fiquem atentos, pois a tão alardeada "doce terra da liberdade", na prática, não é assim tão tolerante em relação aqueles que não se adequam às suas regras.

É ainda interessante notar que todo o trabalho de atuação e construção de personagem realizado por Ben Mendelsohn (Reino Animal, 2010) na concepção do investigador de polícia que ele interpreta é claramente inspirada no estilo de Russel Crowe em Uma Mente Brilhante (2001), até mesmo o gestual de seu personagem. Mas é também importante frisar que isso não compromete em nada a ótima atuação de Mendelsohn.


A única ressalva a se fazer em relação a Sede Assassina é que talvez, em alguns momentos, falte um desenvolvimento um pouco melhor acerca de determinados personagens e situações. Mas, em termos gerais, trata-se mesmo de uma ótima estreia para um diretor "gringo" em Hollywood, que merece ser vista.


Atualizado: 23 de jun. de 2023





QUANDO UMA SIMPÁTICA IMAGEM, DIZ MESMO MAIS DO QUE MIL PALAVRAS



por Ricardo Corsetti


Dirigido e corroteirizado pelo consagrado realizador polonês Jerzy Skolimowski (11 Minutos, 2015), EO nos apresenta a história de um simpático burrinho, após fugir do circo onde trabalha e encarar os desafios cotidianos de conviver e lidar com o pior ser vivo que habita o planeta Terra, ou seja, o ser humano.

Sabemos que filmes protagonizados por animais, sobretudo quando realizados em Hollywood, tendem a idealizar e antropomorfizá-los (dar características humanas) em excesso. Felizmente, este não é o caso da simpática produção polonesa, recentemente indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, aliás.


EO consegue entreter, sem nunca cair na armadilha de dar doses de fofura excessiva a seu protagonista equino, gerando portanto, empatia em relação ao burrinho, mas sem subestimar a inteligência ou senso de realidade por parte do espectador.


Por meio de um estilo narrativo quase documental, EO cumpre bem sua tarefa de nos apresentar todo o egoísmo, oportunismo e, por vezes, pura maldade mesmo do bicho homem.


O mundo como ele de fato é, visto e apresentado a nós pelo ponto de vista do simpático burrinho, me fez lembrar um pouco o estilo do ultraclássico filme tcheco Um Dia, Um Gato (Vojtech Jasny, 1964), embora aqui haja uma secura e objetividade muito maior no estilo narrativo.


Ah, Polônia, berço eterno de grandes gênios da sétima arte do porte de um Roman Polanski (O Bebê de Rosemary, 1968) e Andrezj Wajda (Cinzas e Diamantes, 1951), por exemplo, tu não cansas mesmo de nos brindar com gente talentosa e muito criativa. Que ótimo isso!



Atualizado: 23 de jun. de 2023





MADEMOISELLE HUPPERT


por Ricardo Corsetti


Quem me conhece razoavelmente bem, sabe que qualquer coisa (me refiro a filmes, claro) que envolva a presença da excepcional Isabelle Huppert (A Professora de Piano, 2001) já me desperta a atenção imediatamente.

Quanto ao interessante Uma Vida Sem Ele, um bom drama com toques de comédia dirigido pelo estreante Laurent Lariviére, é inegável que ela (Huppert) é simplesmente a alma do filme, um autêntico sistema solar, onde tudo e todos transitam e dependem deste imenso sol provedor.


Filme bem realizado, com competente trabalho de direção de arte (cenografia e figurinos) nas cenas que envolvem reconstituição de época, visto que a trama se passa em dois períodos distintos: o final dos anos 60 (juventude de Joan) e também nos dias atuais, momento em que a protagonista se tornou uma bem sucedida editora.


Embora com duração enxuta (1 hora e 41 minutos), em determinados momentos o filme chega a cansar um pouco mas, graças à inigualável força cênica de Huppert, Uma Vida Sem Ele consegue superar suas limitação narrativas e é também eficiente no sentido de guardar até o final um segredo que é o grande trunfo para se entender toda a trama e também o porquê da relativa amargura, sempre presente no cotidiano da protagonista.


Tecnicamente bem realizado e marcado por aquele senso de humor peculiar que só mesmo um típico filme francês pode oferecer, Uma Vida Sem Ele cumpre bem seu papel de entreter com conteúdo, embora nem sempre supere suas limitações narrativas.



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