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A BANALIDADE DO MAL


por Ricardo Corsetti


Eu, sinceramente, confesso estar cansado de ver filmes sobre Nazismo, holocausto, etc. Pois, após Hollywood já ter produzido zilhões de filmes com essa temática que, aliás, costumam corresponder a uma espécie de "fórmula para vencer o Oscar", é realmente difícil encontrar alguém ainda capaz de oferecer uma visão minimamente original a respeito do tema.



Por isso mesmo, foi com agradável surpresa que assisti, há poucos dias, Zona de Interesse. Um filme realizado a partir de muitas sutilezas. Fugindo totalmente ao óbvio que seria, por exemplo, mostrar o sofrimento vivido pelos judeus em Auschwitz; o filme - dirigido pelo britânico Jonathan Glazer (Reencarnação, 2004) - opta, acertadamente, por mostrar o cotidiano da família de um alto oficial nazista e de sua família que vivem, pasmem, exatamente ao lado do referido e famoso Campo de Concentração.


Inteiramente rodado em alemão (apesar de se tratar de uma co-produção entre diversos países), Zona de Interesse retrata, portanto, o que acontece do outro lado do muro, ou seja: a família do referido oficial nazista preocupada em saber o que terá como prato principal para o almoço de hoje, enquanto as crianças brincam, despreocupadamente, no jardim da casa.



Fica claro, portanto, o objetivo de Glazer em nos apresentar, como diria a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975), a "banalidade do mal". Afinal, vemos um pai de família amoroso, marido dedicado e amante dos animais que, por outro lado, é também aquele que autoriza e ordena a morte diária de centenas de pessoas - do outro lado do muro - sem pestanejar ou refletir um só minuto quanto à gravidade de suas decisões.


É genial, inclusive, a forma como ouvimos ao longo do filme, de forma abafada e em segundo plano, os gritos dos judeus do outro lado do muro, enquanto a família do oficial vive, despreocupadamente, seu cotidiano de interesses pessoais.


Destaque para a atriz alemã Sandra Huller, simplesmente a atriz do ano, visto que está presente em dois filmes concorrentes ao Oscar 2024 e, por Anatomia de uma Queda (Justine Triet, 2023) concorre ao prêmio de melhor atriz.


Zona de Interesse é um filme de sutilezas e com leitura verdadeiramente original acerca do batido tema: Nazismo/Holocausto que estreia hoje nos cinemas brasileiros, com distribuição da Diamond Filmes e, sem dúvida, merece uma boa conferida!



Atualizado: 28 de jan. de 2024

                   


O PARAÍSO É A TAMPA DE UMA CAIXA DE BOMBOM

por Antônio de Freitas


Nosso Lar: Os Mensageiros, faz parte de um acontecimento no cinema brasileiro que pode ser interpretado de duas maneiras. Primeiro como notícia boa, pois a existência de continuações demonstra que filmes brasileiros fizeram sucesso suficiente para justificar o lançamento de uma segunda história envolvendo a mesma ideia. Segundo como notícia ruim; pois, como acontece no cinema americano, continuações demonstram falta de criatividade que leva a reaproveitar as ideias que deram certo em um ciclo que parece estar dando sinais de esgotamento.


Nesse caso temos a continuação da saga dos personagens do livro do nosso mais famoso Médium Chico Xavier (1910-2002)  onde é apresentada a ideia de que existe uma cidade que paira entre a Terra dos Homens e a dos Espíritos, cujos habitantes têm a função de zelar pelos vivos e orientar os espíritos daqueles que morreram para que encontrem a paz e se desenvolvam para reencarnarem. Estes foram apresentados no primeiro filme de 2010 (uma superprodução, para os padrões brasileiros, que deu muito certo) e agora ganham uma nova tarefa: um grupo de 5 espíritos de luz precisa descer à Terra para resgatar o espírito de um poderoso médium que, após morrer, se perdeu na escuridão dominado pelo egoísmo e ganância.


A direção de Wagner de Assis (Nosso Lar, 2010) consegue manter a mesma atmosfera "New Age" do primeiro filme, mas continua com os mesmos erros. A missão de divulgar a ideologia espírita se sobrepõe à necessidade de contar uma história. Os diálogos são muito empostados na maior parte do tempo e ficam explicando demais o que estão fazendo, apesar da onipresença de um narrador. O chefe da turma é Aniceto, interpretado pelo sempre carismático Edson Celulari (Meu Cunhado é um Vampiro, 2023) que está com uma caracterização que lembra Marlon Brando (1924-2004) no filme Super Homem (Richard Donner, 1978) dos anos 70 e junto está o mais do que talentoso Fábio Lago (Cidade Invisível, 2023). Mas essa dupla de ótimos atores não consegue consertar as cenas onde a atuação dura de atores secundários e figurantes acaba estragando.


O roteiro é confuso com muitas tramas paralelas e um vai e vem no tempo. Acaba parecendo um aproveitamento da ideia da saga dos personagens de Guerra nas Estrelas (George Lucas, 1978) com um homem dotado de poderes que, apesar de ter sido orientado por um mestre do bem, se debanda para o lado negro enquanto outro segue o caminho oposto. Pode ser que sejam detalhes dos livros de Chico Xavier que foram escritos muito tempo antes, mas vão acabar sendo associados à tão famosa franquia. E as referências gringas não param por aí. A direção de arte extrapola o visual do primeiro filme para chegar a um “look” de comercial de amaciante para bebês para a cidade dos espíritos do bem. Obviamente inspirado no filme Amor Além da Vida (Vincent Ward, 1998) que, por sua vez, se inspirou no visual dos quadros de Caspar David Friederich (1774-1840), um pintor do romantismo que é extremamente importante como referência dos filmes europeus e americanos. O resultado, junto com o exibicionismo de efeitos visuais (que peca pelo excesso de pirotecnia), beira o kitsch e quebra - sem necessidades aparentes - o padrão do filme anterior.


Os motivos são muito nobres e a história/mensagem é muito edificante. Vale à pena por isso, apesar dos exageros, excesso de diálogos explicativos, música melosa, visual importado e cenas com atuações pouco naturais. Depois de assistir esse filme podemos concluir que o cinema brasileiro consegue também realizar uma produção grandiosa, mas precisamos achar, ao menos, uma linguagem visual que tenha mais ligações com nossa cultura e não ficar copiando a arte dos gringos que já nos impuseram um Jesus Cristo de olhos azuis.




JASON STATHAM ACIMA DA LEI

por Ricardo Corsetti


Costumo dizer que o ator britânico Jason Statham (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, 1998) se tornou um autêntico especialista na arte de interpretar a si próprio (risos). Mas o fato é que a perfeição e inegável carisma com o qual o ex-nadador profissional empreende tal tarefa, surpreendentemente, ainda tornam prazerosa e divertida a experiência de continuar assistindo a seus novos trabalhos.


Em Beekeeper (longa no qual ele assina a produção geral, aliás), obviamente, isso não é diferente. Pois todas as marcas características de um filme estrelado por Jason Statham, ou seja, tiro, porrada e bomba, estão presentes, é claro. Mas em doses ainda maiores e tecnicamente, muito bem realizadas. O diferencial aqui, em relação a outros trabalhos mais recentes do astro, é ver tudo isso sendo amparado e conduzido por um bom roteiro, capaz de realmente emocionar e fazer com que o espectador (sobretudo quem já passou ou possui um parente, normalmente idoso, que já passou pela situação) se identifique com o drama vivido pela simpática senhora, uma espécie de "segunda mãe" do protagonista, inclusive, ludibriada por golpistas profissionais e sem qualquer escrúpulo. O que, sem dúvida, irá despertar a ira e desejo de vingança, por parte do experiente "apicultor".


David Ayer (Esquadrão Suicida, 2016) conduz a boa trama - e também as sequências de ação vertiginosas - com muita competência. Num filme que - graças à persona auto-suficiente do protagonista - chega a lembrar o clássico Nico - Acima da Lei (Andrew Davis, 1988), estrelado por outro brucutu famoso: Steven Seagal.


Um ótimo programa de férias, sem dúvida, é ver Beekeeper na tela do cinema e saborear a deliciosa "justiça com as próprias mãos" (em termos metafóricos) empreendida por este carismático e invencível "apicultor" (também em sentido metafórico).

Afinal, preservar e proteger a colméia ou até, se for o caso, substituir uma "abelha rainha" corrupta, está acima de qualquer outro dever.




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